Marte reviewed Autonorama by Peter Norton
Ilusões tecnológicas e outras trapaças da indústria automotiva, mas não só dela, do capitalismo
4 stars
Autonorama é um livro feito para quem tem raiva da carrocracia, mas sem advogar pelo fim completo dos carros. Mais especificamente, Peter Norton revive a saga histórica dos Futuramas I e II, ligados à montadora automobilística General Motors nos EUA, e estende a nomenclatura "Futurama" a fenômenos das décadas de 1990 e 2010 como Futurama III e Futurama IV (Autonorama). Longe de ser uma questão somente da General Motors, o automóvel individual é um problema de urbanismo e saúde pública nos EUA. Nem a pior cidade em termos de carros no Brasil, São Paulo, consegue fazer entender o que é a dependência completa de carro no país inteiro. Norton estabelece quais foram as artimanhas legais articuladas pelos capitalistas automobilistas para que a situação chegasse a esse ponto. O marketing é o cerne do caos capitalista, não a pulsão de avanço. Aqui, o autor dá responsabilidade a todos os que devem …
Autonorama é um livro feito para quem tem raiva da carrocracia, mas sem advogar pelo fim completo dos carros. Mais especificamente, Peter Norton revive a saga histórica dos Futuramas I e II, ligados à montadora automobilística General Motors nos EUA, e estende a nomenclatura "Futurama" a fenômenos das décadas de 1990 e 2010 como Futurama III e Futurama IV (Autonorama). Longe de ser uma questão somente da General Motors, o automóvel individual é um problema de urbanismo e saúde pública nos EUA. Nem a pior cidade em termos de carros no Brasil, São Paulo, consegue fazer entender o que é a dependência completa de carro no país inteiro. Norton estabelece quais foram as artimanhas legais articuladas pelos capitalistas automobilistas para que a situação chegasse a esse ponto. O marketing é o cerne do caos capitalista, não a pulsão de avanço. Aqui, o autor dá responsabilidade a todos os que devem ser responsabilizados: empresas, Estado, lobistas, cientistas com conflitos de interesses... O Autonorama é, primariamente, um esforço hercúleo de marketing para vender a insatisfação e o sonho de um amanhã que nunca vai chegar. Não se trata só sobre carros, apesar de a carrocracia definitivamente serem um agravante de saúde pública inconveniente. É sobre o modo de existir que gira em torno de um progresso inevitável.
Minhas duas reclamações sobre o livro não dizem respeito ao conteúdo em si, mas a editoração: a qualidade do papel e da capa são insuficientes e, apesar de eu geralmente gostar de referências nas notas de rodapé, aqui é um pouco demais. Acho que pelo menos um terço do livro é referência bibliográfica, aí é meio irritante. Mas recomendo em geral a leitura.